15/01/2018

Abertas inscrições para oficina e performance LAVAGEM

Foto: Mariana David.

Em seu segundo ano, projeto convoca à transfiguração das violências sofridas por mulheres e faz performance-oferenda a Iemanjá


Em uma procissão-performance, no dia 02 de fevereiro de 2017, às 06h da manhã, dezenas de mulheres gritavam seus ilás (palavra em iorubá que significa ruído/som de origem desconhecida) a caminho das águas salgadas e ofereciam suas cabeças a Iemanjá. A performance fez parte da primeira edição de LAVAGEM, oficina-ação desenvolvida pelas artistas-produtoras da Gameleira Artes Integradas, Raiça Bomfim e Olga Lamas, um processo artístico-político que busca trabalhar a transfiguração das violências diversas sofridas por mulheres.
Em 2018, o projeto retorna com uma oficina de 29 de janeiro até 01 de fevereiro, das 09h às 13h, na Casa Guió, localizada na Rua Odilon Santos (ao lado do Commons Studio Bar), e será aberta a 50 mulheres – maiores de 18 anos. No dia 02 de fevereiro, o cortejo performático dessa pequena multidão de mulheres acontecerá na Alvorada de Iemanjá, saindo do Lalá Multiespaço em direção à Praia do Rio Vermelho.
A seleção das participantes se dará através de inscrição online, focando abarcar perfis variados de idade, escolaridade, experiência artística, classe social, etnia etc. Não é necessário ter experiência artística prévia. Inscrição e maiores informações através do site www.gameleiraintegra.com  ou e-mail gameleiraintegra@gmail.com .
Diferente da primeira edição, que contava com financiamento público, em 2018 a ação acontece de modo independente, o que leva a inscrição ser realizada via pagamento de contribuição consciente (de R$ 120 a R$ 250). “Nosso desejo é abarcar uma coletividade de mulheres o mais ampla e heterogênea possível, dentro das nossas possibilidade de execução da oficina, de modo que cada mulher interessada possa investir de acordo com sua disponibilidade financeira do momento”, declaram as produtoras da Gameleira.
A atriz e jornalista Mônica Santana, premiada pelo seu solo Isto Não é Uma Mulata, participante de LAVAGEM em 2017, declara que o projeto é uma experiência muito potente e um espaço de troca, não somente artística e sim política e social: “Cada mulher trouxe seus olhares, alegrias e tristeza. Foi muita emoção. Extrapola o lugar do racional, pois abre outros canais de percepção e compartilhamento. Lembrando que não é um rito religioso e sim uma performance artística”, reflete a performer que tem um trabalho artístico voltado para o feminismo negro. 
E convoca: “O projeto Lavagem é um espaço diverso e seria lindo vermos essa diversidade presente, com mulheres CIS, TRANS, negras e das diferentes orientações sexuais. Essa diversidade torna a performance mais rica. Enquanto performance artística e política, ela se torna mais vertical quando temos mais diversidade de discurso e origem”.
2017
A primeira edição de LAVAGEM aconteceu em Salvador/BA, entre janeiro e fevereiro de 2017, com aproximadamente 40 mulheres. A oficina-ação foi anunciada como um processo sensível-político, que trabalha a transfiguração das violências diversas sofridas por mulheres. Durante seis dias, as facilitadoras Olga Lamas e Raiça Bomfim desenvolveram exercícios e atividades artísticas focadas na empatia e integração entre as mulheres participantes, experimentando voz, movimento, palavra, presença. Evocações de memórias, segredos, dores, gozos, de silêncios e gritos em comunhão. O processo transcorreu em sala de ensaio, na rua e na praia.
Poéticas
A inspiração para criação e desenvolvimento de LAVAGEM veio de arquétipos de Deusas de diversas culturas, presentes no tarô Oráculo da Deusa. “São cartas que trazem aspectos importantes de serem evocados e trabalhados artisticamente, tais como: entrega, abertura, êxtase, raiva, medo, alegria, morte e renascimento, poder, relação entre vítima e algoz, mudança e transformação”, explica Olga Lamas.
Raiça Bomfim acrescenta que “somamos os arquétipos das Deusas às histórias e marcas da cidade de Salvador. Lendas e histórias de águas, calçadas, fachadas, muros. Abrirmo-nos à escuta das vozes que ressumam das pedras e do concreto e trazem à tona vestígios negligenciados da história ‘oficial’, investigando as marcas de violência que compõem essa cidade e as mulheres que nela habitam”.
Olga explica que no cortejo-oferenda de LAVAGEM, cada mulher compõe o percurso com a cabeça coberta de flores, sem os pudores e traços que a exposição da rostidade impinge. A inspiração para as cabeças de flores vem de sua performance Sagração (2014). Neste coletivo de corpos e na tensão de seus estados, na flexão de seus caminhos, na produção intermitente de conexões e diferenças, vemos emergirem novos modos de agrupamento e escuta”, completa.
As pesquisas artístico-acadêmicas de Raiça, sobre a poética da dissolução, e de Olga, sobre o silêncio, enriquecem o projeto. Neste último, o silêncio é compreendido como provocador de sentidos, discursos e presenças. “Silêncio como sinônimo de abertura e convocação ao encontro, à empatia. Silêncio que é também barulho, ausência que pode ser presença, pausa que engloba movimento”. 
Já a poética da dissolução de Raiça Bomfim, nasce do cruzamento de uma poética da água e uma poética da loucura e se materializa nos corpos criativos em qualidades de fluxo, trânsito, abandono, disrupção, desorientação e vertigem. “Essas qualidades terminam por dissolver as divisas entre teatro, dança e performance, entre arte e vida, entre teoria e prática, entre visível e invisível, entre condução e desorientação, entre movimento e descanso, entre casa e rua, entre silêncio, palavra e som”, explica Bomfim.
Gameleira
Olga Lamas e Raiça Bomfim são as artistas-produtoras da Gameleira Artes Integradas, criada em 2015 em Salvador/BA.  Oriundas de experiências de trabalho em coletivos cênicos - Olga no Núcleo VAGAPARA e Raiça no Alvenaria de Teatro - decidem criar a Gameleira à maneira de um território de articulações artísticas, associando criações autorais, cooperações criativas e produção.
A Gameleira têm realizado ações continuadas de estímulo, produção e difusão de projetos artísticos cujos discursos, propostas e/ou formatos perpassam questões sobre decolonização, afirmação de subjetividades historicamente marginalizadas, democratização das artes, desenvolvimento de linguagens mestiças e fortalecimento de vanguardas artísticas; estabelecendo parcerias e colaborações com foco no fortalecimento de lideranças femininas e na presença de mulheres nos campos de articulação, gestão e produção artística.
Dentre seus principais projetos e ações realizadas estão: Tristes, Loucas e Más: Festival de Mulheres em Cena (2017 - Salvador/BA), em que a Gameleira assina concepção, curadoria, coordenação de produção e realização. O festival contou com o patrocínio da CAIXA via Programa CAIXA de Apoio a Festivais de Teatro e Dança 2016. 
Outro projeto foi Loucas do Riacho (2017 – Salvador/BA), em que assumiram a criação, produção e realização, com o apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia - SECULT/BA, dentro do qual ocorreu a primeira edição da Oficina-Ação Lavagem.
A montagem Ofélia: Sete Saltos Para se Afogar (solo de Raiça Bonfim, em 2015, indicada à categoria Revelação do Prêmio Braskem de Teatro 2016) e as performances Sagração Sirva-se (de Olga Lamas, de 2014 e 2011, respectivamente), são outras realizações autorais da Gameleira. Para saber mais informações dos trabalhos da Gameleira Artes Integradas:  www.gameleiraintegra.com | www.facebook.com/gameleiraintegra | @gameleiraintegra.


Serviço
O quê: Oficina-ação Lavagem
Período: 29/01 a 01/02/18, das 9h às 13h; 02/02 na Alvorada. [5 dias | carga horária total 20h]
Local de realização: Casa Guió, Rua Odilon Santos, 202 - Rio Vermelho + Praia do Rio Vermelho
Público Alvo: Mulheres a partir de 18 anos
Total de participantes: 50
Inscrições e maiores informações: De 15 a 27/01/2018 pelo site www.gameleiraintegra.com ou  email gameleiraintegra@gmail.com

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