21/10/2016

Aprovado parecer que defende tombamento do terreiro Mokambo, em Salvador



Foto: Ana Vaneska

O parecer de autoria da conselheira de cultura Ana Vaneska, que defende o tombamento do terreiro Mokambo – Onzó Nguzo za Nkizi Dandalunda Ye Tempo, localizado no bairro do Trobogy, em Salvador, foi aprovado em reunião da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural, principal instrumento de trabalho do Conselho Estadual de Cultura.
A conselheira, que preside a Câmara de Patrimônio, defende o tombamento e recomenda o cumprimento da lei municipal de proteção da área de mata atlântica, com base na legislação vigente que protege o Sistema de Áreas Verdes do Município, sendo levada em consideração que trata-se de uma Área de Proteção Cultural e Paisagística (APCP). O texto sugere que se façam valer as medidas jurídicas ao reflorestamento da área e assim garantir as características simbólicas e culturais típicas da religiosidade de matriz africana vinculadas aos elementos da natureza.
O início do processo consta de 2005, quando o Taata Anselmo José da Gama Santos, sacerdote do Terreiro Mokambo, solicitou ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) a aplicação da Lei de Patrimônio a fim de afirmar a condição necessária para preservação do espaço. O processo foi encaminhado à Câmara de Patrimônio após o IPAC ter elaborado um Dossiê de Inventário para Preservação. Em 2007, foi aplicado o tombamento provisório do terreiro e sua inscrição no Livro do Tombamento dos Bens Imóveis, como medidas preventivas que garantissem, no decorrer da ação, a inviolabilidade dos direitos culturais da comunidade detentora do patrimônio em questão.
Depois de minuciosa leitura dos documentos reunidos tanto pelo IPAC como pelo Taata Anselmo, e de feitas visitas técnicas ao local, a defesa da importância do instrumento de tombamento se faz agregando força às medidas protetivas e de salvaguarda em desenvolvimento e capitaneadas pela comunidade tradicional. O templo religioso possui o Memorial Mokambo Kisimbiê – Águas do Saber, é detentor do primeiro plano museológico de um memorial de terreiro no Brasil e tem o Plano de Salvaguarda dos Bens Imateriais daquele sítio religioso em fase de elaboração, sendo construído pela sua própria gente.
O parecer menciona ainda a árvore genealógica espiritual do terreiro, fazendo referência à tradição do culto na Bahia e aos caminhos percorridos pelo povo bantu durante o período escravocrata no Brasil. Além disso, cita objetos de extrema relevância, como a cadeira de Jubiabá, batizada há mais de cem anos, e faz menção à intolerância religiosa que acomete as religiões de matriz africana, bem como a violência direcionada aos terreiros, a exemplo dos prejuízos sofridos com a especulação imobiliária.


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