18/05/2012

Diferença entre doença mental e loucura é debatida por psiquiatra


Ouvir o paciente é um desafio para os profissionais de saúde.

Há na sociedade moderna uma psiquiatrização, a ideia que todo sofrimento é uma doença mental e necessita a utilização de medicamentos, uma banalização de termos técnicos psiquiátricos. Este pensamento é discutido pelo médico e professor universitário Antonio Moura. A intenção do pesquisador é fazer com que profissionais não psiquiatras repensem o atual modelo da psiquiatria e avaliem a conduta dos tratamentos aplicados aos doentes mentais. A proposta para uma reflexão, sobre o atual modelo adotado no país, está no livro de sua autoria “Trair a Psiquiatria”, que será lançado no próximo dia 23.

Antonio Moura reflete em seu livro a maneira como os pacientes psiquiátricos são tratados pelos profissionais de saúde, e sobre a forma como os tratamentos são conduzidos. Ele acredita que o uso excessivo de fármacos muitas vezes pode retardar a cura do paciente ou até mesmo prejudicar o processo clínico. “É preciso transpor os muros dos hospitais psiquiátricos e avaliar cada paciente com um pouco mais de sensibilidade, esta é a proposta da clínica da diferença”, afirma o psiquiatra.

Esta forma de pensar envolve novas maneiras de procurar entender o paciente, ouvi-lo atentamente, levar mais em conta a subjetividade do problema para que se entenda o real motivo das psicoses, traumas ou síndromes. Antonio Moura concorda que os fármacos são importantes no processo da cura, mas para ele mais importante que a farmacoterapia é o diagnóstico contextualizado e preciso do problema do paciente.

O psiquiatra Antonio Moura acredita que, por melhor que seja o fármaco, o medicamento não atinge as questões mais profundas do problema, apenas atua no processo biológico do corpo humano, ameniza as reações e dores do paciente.

Fazer entender que nem todo doente mental precisa de internamento e de que eles não devem ser estereotipados como loucos são duas propostas do psiquiatra. “O louco não produz e não tem o seu trabalho reconhecido pela sociedade. Por esse

motivo não podemos chamar de louco todo doente mental, isso acarreta grandes danos para a vida pessoal e profissional do paciente, que muitas vezes tem chance de cura completa”, finaliza o médico.


Trair a Psiquiatria

A loucura e suas implicações na vida do paciente são temas do mais novo livro do psiquiatra e professor Antonio Moura. A obra “Trair a Psiquiatria” será lançada no dia 23 de maio, às 19 horas, na Livraria Cultura, no Salvador Shopping. Com uma visão para além da medicina, o autor aposta em uma prática mais sensível dos profissionais de saúde que trabalham com pacientes que apresentam distúrbios mentais.

O objetivo de Antonio Moura é que profissionais não psiquiatras estejam compromissados com os pacientes e não com a psiquiatria e sua visão mecanicista das condutas humanas. Ouvir atentamente na anamnese (avaliação realizada na primeira consulta) possibilita um diagnóstico adequado à realidade do paciente, oferecendo um cuidado singular. “Um dos aspectos mais importante do livro é deixar claro a diferença e as consequências práticas na construção de novas clínicas. Doente mental não é louco. Loucura é outra coisa, uma positividade existencial que pode (ou não) desmoronar como doença”, afirma o médico.

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